
Por vezes uma pessoa que corre, pode ser atingida por uma lesão sem dar muito bem conta dos motivos por que a mesma surgiu. Primeiro começa uma ligeira impressão, para depois, ao fim de alguns dias ou semanas transformar-se numa dor aguda que impossibilita correr, como da mesma forma, pode surgir de um momento para o outro, em plena corrida.
Para uma maior prevenção contra este tipo de situações e no intuito de dar um maior esclarecimento a quem gosta de correr, vou dar uma imagem, das principais causas do aparecimento regular de lesões , sempre tão desmoralizantes para qualquer entusiasta de um simples desporto como é a corrida a pé.
1 – Fraca flexibilidade: Os nossos músculos tensos e rígidos estão mais sujeitos a lesões do que outros bem exercitados ao nível da flexibilidade. Este é um problema sempre esquecido pelos corredores desejosos de fazerem mais uns minutos de corrida, desprezando quase sempre alguns importantes exercícios adequados a isso. Nunca se esqueça deles antes e depois da sua corrida e comece em forma descontraída e lento.
2 – Pé fraco: Os nossos pés tocam no solo à razão de 1000 batimentos durante um período de 7 a 12 minutos de corrida, conforme a amplitude da passada e o andamento de treino. Estes números podem parecer exagerados, principalmente se pensarmos que durante, por exemplo, uma semana qualquer, um corredor mediano cobrirá facilmente um total de 5 a 7 horas de corrida, ou seja, qualquer coisa como 30.000 a 42.000 batimentos no solo ! Com estes dados é mais fácil começarmos a compreender a razão da maioria das lesões se situar no conjunto ósseo-muscular da zona do pé. Ao mesmo tempo, muitos estão a pensar como têm tido sorte de nunca se terem lesionado em tal zona. O atleta deve ter sempre o conjunto articular do pé musculado e preparado para os esforços a que se propõe. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde, vêm as lesões. Tenha muito cuidado com o tipo de sapatos que utiliza e com os terrenos em que corre.
3 – Excesso de treino: Se tem pouca base de quilómetros,um aumento súbito dos mesmos é a certeza de lesão. O organismo do ser humano é uma excelente máquina bem preparada para tudo, mas que deve ser exercitada gradualmente de forma a possibilitar um equilíbrio dos diferentes esforços. Se é certo que a maioria dos principiantes procura absorver cada pormenor da corrida tendo em vista a progressão rápida,não nos podemos esquecer que quanto mais rápida for a progressão mais perigos existem de lesões.
Tenha calma, viva cada nova etapa aquele conselho que também lhe deram, mas nunca procure « mostrar-se » como a « grande vedeta ». Quanto melhor for o ambiente em que treina,melhores são as possibilidades de assimilação do esforço e o consequente fortale- cimento moral e físico.
4 – Descuidos nos Períodos Fracos: Ao mínimo sinal de lesão tenha calma. Mais vale perder um treino do que estar meses e meses parado. Da mesma forma, quando recomeçar os treinos depois de qualquer lesão, procure respeitar as normas que o seu médico lhe aconselhou, uma lesão mal curada é algo que fica sempre para a vida desportiva do atleta e as suas mais graves consequências só se vêm a repercutir anos mais tarde.
Nos períodos mais fracos da sua saúde, procure diminuir também a preparação. Lembre que o corpo não é uma máquina indiferente a avarias.
5 – Falta de Apoio: Existem vários especialistas que recomendam o repouso como o melhor remédio para a cura dos males. Enfim, hoje está provado que o movimento, desde que respeitando as suas consequências fisiológicas, é algo bem mais importante do que se imaginaria há algumas dezenas de anos atrás.
Tenha sempre o cuidado de procurar apoio técnico junto de pessoas competentes e que sintam os problemas dos corredores.
6 – Factores Ambientais: Procure um grupo de corrida optimista, que encare a preparação como algo de descontracção e bem estar e nunca como aquela alavanca que vai possibilitar vencer tudo e todos. O meio ambiente é fundamental para a forma de encontrar o seu equilíbrio e adapta-se ao esforço exigido. Para os colegas de corrida novos tenha sempre uma palavra amiga, deve aparecer sempre como uma excelente forma de descontracção e nunca como uma carga para prejudicar o bem estar de cada um.
Procure correr descontraído e de preferência em grupo. Um bom ambiente de treino, em que cada um « brinca » com o colega, é um excelente método para a descontracção e bem estar do corredor. Um corredor que se encontre só no seu treino habitual está mais sujeito a abandonar a actividade e a irritar-se com pequenos nadas. Viva o treino, brinque com o seu colega do lado, aproveite para contar e escutar as despreocupações de cada um e assim o treino surgirá como um bom « banho » de prazer e não como uma continuação das possíveis preocupações diárias.
7 – Hábitos Impróprios de Treino: Súbitas mudanças de intensidade, duração e frequência dos seus treinos devem ser evitados. Da mesma maneira, mudanças de tipo de piso ( de mole para duro, por exemplo ) e métodos podem ter graves repercussões. Procure, a pouco e pouco encontrar o método de preparação que mais garantias de rendimento lhe possibilite, assim como uma certa segurança na progressão da actividade. Se o seu colega, às quartas feiras, tem por esquema subir a montanha mais próxima, isso não significa que também o tenha que fazer. Cuidado, a progressão é um excelente « remédio » para afugentar as lesões.
8 – Stress Tensão: As lesões surgem normalmente nos períodos difíceis do corredor, não só, por exemplo, por se andar a treinar em excesso, mas também, por outros casos de tensão do seu dia a dia. Um atleta tenso suporta mal os esforços, irrita-se mais com mais facilidade, é mais vulnerável à doença. Sintomas de insónias, fadiga geral e fácil irritação são sinónimos de excesso de treino sempre possíveis de evitar.
9 – Desequilíbrio Muscular: Se observarmos os corredores que treinam, por exemplo só em terrenos acidentados, facilmente concluiremos que os seus músculos inferiores se encontram desenvolvidos. O inverso também é verdade, principalmente para aqueles que só correm em torno de uma pista.
Estes dados demonstram que certos grupos musculares ficam mais desenvolvidos do que outros e quando, por qualquer motivo, se muda de terreno, tais grupos , em regra pouco solicitados no treino, acusam o esforço e lesionam-se. Sob o ponto de vista científico, este problema é demonstrado pelas variações do esforço entre os músculos agonistas, solicitados para o esforço e os antagonistas, em descontracção. Assim ao correr há alguns músculos que descansam e outros que estão em plena actividade, numa sucessão que ao fim e ao cabo, permite o melhor rendimento.
Na prática, deve-se variar os tipos de terreno e respectivas percentagens de inclinação de forma a possibilitar uma perfeita e desejável musculação natural. Paralelamente, é importante, também, um reforço gradual dos músculos abdominais e quadrúpedes.
10 – Desigual Comprimento das Pernas: É muito raro as nossa pernas serem rigorosamente iguais, ou melhor terem o mesmo comprimento e cerca de 50% dos corredores têm lesões originadas por esse facto. As diferenças são apenas de alguns milímetros mas, como já tive ocasião de dizer atrás, as milhares de passadas começam a fatigar mais um determinado local do que outro e, depois aí estão as micro lesões, cujas consequências são por vezes bem graves.
Atingido por elas, o corredor, normalmente, não pensa que a causa pode estar num ou outro milímetro de diferença entre as suas pernas esquerda e direita. Limita-se a usar esta ou aquela pomada, a dor desaparece para voltar pouco tempo depois, sem que se saiba muito bem como. Geralmente recorre-se a dizer mal da pomada, muda-se para uma outra, mas a causa do mal fica intocável e muitas vezes desconhecida. Aconselho uma consulta a um bom especialista ( de preferência que seja um corredor…) .
11 – Falta de Massagem Muscular: Aplicada por um especialista em Medicina Desportiva, a massagem profunda é bastante eficaz para melhorar a zona dos tecidos afectados e dos músculos rijos, no entanto se não houver essa possibilidade, aconselho a depois de cada treino a fazer uma auto-massagem nas pernas, sempre de baixo para cima.
12 – Sapatos Velhos e gastos: Tenha sempre em atenção que muitas das lesões podem ter a ver com o desgaste natural dos nossos sapatos de corrida, é preferível trocar de sapatos, assim que eles começam a dar mostras de desgaste do que, ter de parar um ou dois meses por causa deles.