CONTROLAR O CORPO DO CORREDOR

Correr, horas e horas, dias, meses, anos e, no entanto, a “máquina” parece ir funcionando bem. Mas será mesmo assim? Se com o nosso carro temos o cuidado de o levar de X em X quilómetros às revisões periódicas, porque não fazer o mesmo com o nosso corpo, com a nossa máquina?

A maioria dirá: “mas eu não estou doente, transpiro saúde por todos os lados, qual a razão de perder tempo em visitas ao médico?”

Pois é exatamente isso que acontece com os nossos automóveis: quando os conduzimos, parece que está tudo perfeito, mas sabemos que há sempre pequenas coisas que nunca imaginámos e que só os mecânicos experientes conseguem detetar. Com o nosso corpo, esses “mecânicos” têm um nome, e as oficinas são hoje os consultórios, os hospitais. Quanto às peças, chamam-se testes, exames físicos, análises clínicas…

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Hoje, vamos dar uma ideia geral das ferramentas, testes e exames que os corredores devem procurar fazer, mais ou menos regularmente, para ficarem bem por dentro de como está a reagir a sua máquina — o seu corpo — aos muitos quilómetros que percorrem, mês após mês.

É importante deixar claro que a linguagem que utilizaremos não terá o rigor técnico compreendido apenas pelos especialistas, mas sim uma forma de transmitir noções gerais que possam ser entendidas por todos.


1 – Ecocardiograma
Válido para todos os níveis de praticantes de corrida, o seu objetivo é a observação dos parâmetros anatómicos das câmaras do músculo cardíaco e a resposta aos estímulos do treino regular. Este exame é aconselhável logo após o início da prática da corrida, para perceber não só se a “máquina” está bem, mas também se reage de forma adequada ao aumento progressivo da quilometragem a que está sujeita semana após semana. Qualquer cardiologista especializado em desporto dirá que este exame é a “cereja no topo do bolo”.


2 – Ergométrico
Regra geral quando se procura um médico, mesmo que não seja especializado em desporto, para saber como está a “máquina”. Faz-se este exame com o objetivo de observar a frequência cardíaca e o ritmo, bem como o esforço arterial durante um esforço progressivo e gradual. É recomendável usar uma pista para testar a leitura dos valores habitualmente praticados na corrida. Como mencionado anteriormente, é importante que os registos dos parâmetros sejam analisados por um médico familiarizado com o desporto.


3 – Colesterol
Embora seja aconselhável fazer este exame, mesmo para iniciados, nem sempre os médicos o consideram prioritário, o que é uma pena, pois através dele consegue-se detetar valores elevados de lípidos no sangue, o que pode representar risco cardíaco durante o esforço físico.


4 – Hemograma
É importante realizar este exame, principalmente para quem começa a correr e não tem histórico desportivo. O exame permite detetar alterações nos três tipos de células sanguíneas: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. A sua realização dá uma noção muito clara sobre o estado geral do sistema circulatório.


5 – Creatinina
O objetivo deste exame é avaliar a função renal e a capacidade de filtração e excreção dos resíduos metabólicos produzidos pelo esforço físico.


6 – Glicemia em Jejum
Este exame é fundamental para quem se inicia na corrida, pois ajuda a diagnosticar situações de intolerância à glicose, como por exemplo quadros de diabetes.


7 – TSH
Fundamental para praticantes de treinos diários ou intensos. Este exame serve para detetar doenças relacionadas com as hormonas da tiroide, em especial situações onde a falta dessas hormonas pode recomendar a redução do nível de treino e, eventualmente, o abandono de competições regulares.


8 – Magnésio, Sódio, Cálcio e Potássio
É fundamental monitorizar os níveis destes eletrólitos, já que são essenciais para o bom funcionamento do corpo humano. A troca de eletrólitos entre as células é determinante, especialmente para corredores sujeitos a cargas elevadas de trabalho muscular.


9 – Ferritina
É crucial para atletas e corredores regulares monitorizar os níveis de ferro, pois este está diretamente relacionado com o transporte de oxigénio no sangue. Situações de anemia, muitas vezes de origem crónica e oculta, podem comprometer seriamente o desempenho de qualquer corredor. No caso das mulheres, é ainda mais importante, já que as perdas de ferro relacionadas com a menstruação podem agravar estados de anemia prolongados, que nem sempre são percebidos pelos treinadores ou pelas próprias atletas.


10 – TGP e TGO
Este exame avalia o fígado e o seu funcionamento, para evitar riscos durante a prática de atividades físicas. É particularmente importante para praticantes assíduos, embora, infelizmente, nem sempre seja realizado por todos os desportistas.


Para finalizar, queremos destacar que os primeiros 6 testes devem ser considerados como essenciais para controlar a “máquina” de qualquer corredor, seja ele iniciante ou um atleta mais experiente. Os exames mencionados a partir do sétimo são mais recomendados para corredores já confirmados e que pretendem competir a um nível superior.

Um dado é, porém, determinante: o check-up médico é fundamental, pois o nosso organismo é muito mais importante do que o nosso automóvel. Infelizmente, “perdemos” mais tempo com os carros nas oficinas do que com o nosso corpo nas tão necessárias revisões médicas.

Pela Dra. Nancy Davies