
O envelhecimento faz parte da experiência humana normal. Também o é correr progressivamente mais devagar com a idade. Na alta competição, o declínio na desempenho aflige alguns logo após os trinta anos, enquanto outros mantêm os seus melhores resultados por muito mais tempo. São os exemplos de Carlos Lopes que aos 38 anos correu a maratona em 2h07m 12s e mais recentemente José Ramos nos Nacionais de pista nos 5.000 metros, com o oitavo melhor tempo do mundo no escalão dos 40 anos.
Num estudo sobre os efeitos do envelhecimento realizado durante 25 anos na Universidade de Florida, foram analisados duas dezenas de atletas. Com intervalos de cinco e de dez anos, um dos investigadores convidou os atletas a testes que duravam três dias. Na primeira década, alguns deles pareciam que desafiaram o Pai Tempo. Um treino agressivo permitiu-lhes manter altas pontuações de capacidade máxima de oxigénio. Apesar de o nível de forma física ter permanecido muito mais alto do que o público, no final todos mostraram uma queda, que o investigador identificou nuns 5% durante os quarenta anos, de entre 5 e 10% durante os 50 anos e foi de entre 10 e 15% na década dos sessenta. As quedas foram inclusivamente mais pronunciadas à posteriori, apesar do grupo continuar em boa forma e superior ao do público.
Num outro estudo realizado também nos EUA em 1993 sobre as melhores desempenhos dos atletas americanos de longa distância, o dr. Michael joyner descobriu que dos 35 até aos 55 anos, o tempo da corrida aumenta em tomo de 6% por década para os homens e 9% para as mulheres. A diferença entre os sexos tem a ver provavelmente com factores culturais, incluindo o menor número de corredoras competitivas depois dos 40 anos e as restritas oportunidades de exercício para as mulheres americanas antes da emenda educacional de 1972.
O dr. Joyner descobriu ainda que os tempos nas corridas aumentam mais rapidamente depois dos 55 anos. Porquê?
Não se sabe o quanto isso é devido à fisiologia e o quanto é relacionado a factores culturais. Poucos corredores veteranos treinam de forma contínua desde a juventude ou fazem treinos na mesma intensidade e duração que atletas de elite mais jovens. Além disso, os corredores veteranos tiveram mais’ tempo para acumular efeitos de lesões que cobram o seu tributo. Portanto, uma parte da queda de perfomance entre corredores veteranos é provavelmente devido à menor quantidade de talentos treinando a sério.
À medida que mais corredores continuem a treinar e a competir depois dos 60 e 70 anos de idade, as perfomances nessas faixas etárias devem melhorar de forma correspondente, revelando os efeitos da fisiologia.
Saber ser veterano
Mas nem todos os atletas encaram bem esta situação. Não querem admitir que não são tão rápidos aos 50 ou 60 como foram aos 30 ou aos 40. E claro, ainda menos rápidos aos 65 e por aí.fora. Quem não conhece corredores que ao se reformarem aos 60 ou 65 anos, passaram a treinar-se muito mais do que antes, alguns deles até a fazer treinos bidiários? Alguns até com a ideia de baterem os seus recordes pessoais conseguidos 20 anos antes? Claro que estes exageros conduzem na maioria das vezes a lesões com uma cura cada vez mais demorada.
A perda de velocidade faz parte da vida. Para quem.começa cedo a praticar desporto, a maioria das pessoas alcança o ponto culminante da sua força e capacidade de resistência em certo momento dos 30 anos e
começam depois a perder velocidade. Claro que há exceções. Há muitos corredores que começaram a correr aos trinta ou aos quarenta anos e que têm ainda uma boa margem de progressão, continuando a estabelecer
recordes pessoais aos cinquenta e inclusive aos sessenta. Mas tal deve-se ao facto de eles terem começado mais tarde e a ter aumentado gradualmente o seu treino ou a terem aprendido a treinar-se com maior eficácia.
Isto não quer dizer que o veterano não possa se o desejar, dar o melhor de si em cada momento da sua vida desportiva. Se deixar de preocupar-se com os tempos, pode certamente derrotar o Pai Tempo.
Factores fisiológicos
Os três factores fisiológicos que melhor predizem a perfomance na corrida de longa distância são o V02 máximo, a economia de corrida e o limiar de lactato. Entre os sedentários, o V02 máximo diminui à volta de
10% por década. As razões possíveis para esse declínio incluem quebra na frequência cardíaca máxima, menos sangue bombeado a cada contracção, massa muscular reduzida e menor habilidade dos músculos em utilizarem oxigénio. Porém, cada um desses factores pode estar mais relacionado com a inactividade do que com a programação genética:
Estudos com corredores, têm encontrado quebras bem menores no V02 máximo com a idade. O dr. M. Polock descobriu que atletas de pista veteranos que ainda mantêm a intensidade do treino, não tiveram queda significativa no V02 máximo durante um período de dez anos. Antes dos JO de 1968, foram testados 26 dos melhores corredores de fundo nos EUA. Esses corredores retomaram ao laboratório 25 anos depois para um acompanhamento afim de verificar a evolução da sua fisiologia. O V02 máximo absoluto declinou em 14% nos atletas que ainda corriam, comparado com uma quebra de 24% nos que pararam de treinar.
Quando analisado o peso25 corporal, a diferença entre os que se mantiveram em actividade com os que pararam, ainda foi maior. Esses resultados sugerem que grande parte do declínio no V02 máximo, tipicamente visto com a idade, está relacionado com a inactividade. Também surpreendentemente, a frequência cardíaca nos atletas estudados, declinou apenas dois batimentos por minuto durante esses 25 anos. Esses resultados vão contra as fórmulas geralmente usadas para calcular a frequência cardíaca máxima baseando-se na idade e sugerem que o. declínio com o tempo pode estar relacionado com o estilo de vida.
Outra vantagem é que quantos mais anos de treino de resistência tem o corredor, mais o seu limiar de lactato tende a aproximar-se do V02 máximo. Isso é devido às adaptações nos músculos trabalhados e continua a acontecer por muitos anos. Três aspectos que podem ser incorporados no treino semanal também pode suceder o veterano obter melhores resultados do que em anos anteriores. Para tal, pode contribuir um maior conhecimento sobre o treino e as reacções do corpo ao treino. desportivo, há três aspectos que podem ser incorporados no treino semanal:
1. Programar mais dias de descanso. Um dia de descanso entre sessões duras de treino pode não ser suficiente. O atleta pode necessitar de programar dois ou três dias suaves de forma a poder correr com uma intensidade óptima quando correr dando o melhor. A intensidade é o segredo do rendimento em todos os níveis de idade.
2. O atleta deve fazer mais treinos cruzados. os dias intermédios, deve praticar outros desportos para manter e melhorar a sua eficiência aeróbica. A natação e o ciclismo são duas boas actividades alternativas. Não deve ainda menosprezar o valor de uma boa caminhada.
3. Deve ainda fazer mais treino de força. À medida que envelhecemos, perdemos massa muscular e aumentamos a nossa quantidade de gordura, inclusiva mente quando o nosso peso é o mesmo. Um modo de combater esta situação é fazer treino de força usando tanto, pesos com máquinas como pesos livres.
Ritmo Cardíaco Máximo
Há quem pondere aumentar o ritmo cardíaco máximo para melhorar o seu rendimento desportivo. Mas esta melhoria do rendimento não pode associar-se inteiramente aos ritmos cardíacos. Alguns dos melhores corredores de fundo tinham ritmos cardíacos baixos.
Quando as pessoas começam a exercitarse, os seus ritmos cardíacos em repouso diminuem frequentemente à medida que o seu coração se torna mais eficiente em bombear oxigénio aos músculos. Não é certo que os seus ritmos cardíacos aumentem tanto como a sua capacidade para alcançar todo o seu potencial. Para muitos indivíduos que não estão em boa forma física,’ tentar alcançar um ritmo cardíaco máximo, é arriscar-se a uma morte súbita. Os científicos do exercício sem dúvida dirão que não se pode predizer inteira mente o seu rendimento medindo o seu ritmo cardíaco. A capacidade cardiovascular é apenas um dos factores que determina um bom atleta de fundo. Todos variam as
suas reacções ao treino. O seu ritmo cardíaco máximo diminuirá gradualmente à medida que envelhece. De uma coisa podemos estar certos:
O corredor” correrá mais lentamente aos 70 anos do que aos 30 ou 40. Porém, o tempo e a percentagem no qual o corredor irá perder velocidade, não está totalmente baseada na genética. Não sabemos qual a percentagem do declínio na performance da corrida que é devida às alterações fisiológicas e qual é devida às mudanças de prioridades, ao efeito cumulativo das lesões, etc. Porém, parece cada vez mais evidente que a função fisiológica associada ao envelhecimento pode ser reduzida através do treino.