Com 40 anos de corrida, João Marques tornou-se uma figura incontornável do atletismo nacional. Apesar de nunca ter sido profissional, a dedicação e o compromisso que sempre colocou no desporto levaram-no a conquistar títulos nacionais e internacionais. Nesta entrevista, partilha o seu percurso, os momentos mais marcantes e os ensinamentos que acumulou ao longo dos anos.
Comecei a correr há 40 anos e, desde então, o atletismo tornou-se essencial na minha vida. Além da saúde e do bem-estar, proporcionou-me experiências enriquecedoras. No início, comecei por brincadeira, sem grandes ambições. No entanto, os primeiros resultados surpreenderam-me e motivaram-me a continuar. Percebi que tinha potencial e que o atletismo poderia ser mais do que um simples passatempo.
Nunca fui atleta profissional, mas sempre encarei a modalidade com paixão e compromisso, treinando duas vezes por dia enquanto trabalhava. Tive a felicidade de viver muitos momentos marcantes. Destaco o título de Campeão Nacional de Maratona em 2005, a vitória nos 20 km de Almeirim por três vezes e a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus de Estrada.
Os meus melhores tempos pessoais foram 14m19s nos 5 km, 29m39s nos 10 km, 44m20s nos 15 km, 1h00m13s nos 20 km, 1h02m41s na meia maratona e 2h24m48s na maratona. No auge da minha carreira, os treinos eram bastante variados: fazia séries, treinos de praia, Fartlek e rampas, trabalhando diferentes capacidades físicas. Durante as semanas mais intensas, chegava a correr cerca de 180 km. O meu treino preferido era o Fartlek na mata.
A minha alimentação era equilibrada, sem grandes restrições. Apenas tinha um ritual antes das competições: jantava um bife com massa. Também dava muita importância à recuperação. Uma das minhas rotinas era fazer uma massagem às quintas-feiras, ajudando a prevenir lesões e a manter o corpo preparado.
Nunca representei a Seleção Nacional, mas ao longo da minha carreira tive o privilégio de representar vários clubes como S.F.R.A.A, G.S. de Loures, G.D.R. da Conforlimpa, G.D. Unidos Caxienses e G.D.R. da Reboleira. O G.D.R. da Conforlimpa foi o clube que mais contribuiu para a minha evolução. Lá conquistei títulos nacionais e internacionais que marcaram a minha trajetória.
Trabalho na Federação Portuguesa de Atletismo há 26 anos. É gratificante estar ligado à federação do desporto que pratico há 40 anos. Trabalhar com ex-atletas da minha geração e acompanhar a nova geração é uma experiência única. Sempre fui amador, mesmo treinando duas vezes por dia. Equilibrar atletismo e trabalho exigiu muito esforço e disciplina, mas foi uma experiência enriquecedora. O meu objetivo é continuar ligado ao G.D.R. da Reboleira, onde sou Diretor Desportivo. Quero contribuir para o desenvolvimento do atletismo e dos atletas do clube.
Nunca desistam dos vossos sonhos. O caminho é difícil e os resultados demoram a surgir, mas com dedicação e paciência, tudo é possível. Além disso, invistam nos estudos, pois a vida depois do atletismo pode ser complicada. Se pudesse voltar atrás, daria mais atenção à flexibilidade antes e depois dos treinos. O meu treinador insistia nisso, mas nem sempre segui. Hoje reconheço que teria prevenido lesões e melhorado o meu desempenho.
