Carlos teve “um azar de vida” em 2013. Morreu-lhe uma filha à nascença e isso moldou homem que é hoje. No ano seguinte, conheceu a mulher que viria a ser a mãe da Melissa, hoje com três anos. Carlos – que já havia tido uma experiência de corrida com o filho de um amigo – pôs na cabeça que quando o seu filho ou filha nascesse haveria de “fazer sempre estas coisas com ele(a)”.
“O carro da Melissa é um carro adaptado, mesmo para correr. Não é um carrinho de bebé normal, capaz de virar ao primeiro buraco na estrada. O carro da Melissa foi caro, custou mil euros. Foi um investimento do qual estou a usufruir há dois dias. Há quem gaste dois mil, três mil euros numa bicicleta, eu gastei nisto para estar com a minha filha”, explica Carlos, dando ênfase ao facto de cada vez mais outros pais decidirem também levar os filhos para a corrida, mas em condições que o “chocam”. Levar as crianças no ovo, sublinha, pode causar danos às crianças, seres ainda tão frágeis.
Carlos e Melissa correm sempre que estão juntos ao fim de semana. Já participaram em quase 40 provas, acumulando nas pernas (e nas rodas) quase 700 quilómetros. Já fizeram todas as distâncias, ficando a faltar apenas a maratona (42 km) pensada para ainda este ano, em Lisboa. O último grande feito da dupla foi completar uma prova de 10km em 38 minutos.
Quando correm, Carlos “liga todos os radares”. “Tenho de pensar na segurança da minha filha e na dos outros atletas”, afirma, explicando que quando um atleta está à sua frente, a sua mente já vai a pensar no caso de este virar para qualquer um dos lados. A parte mais complicada é mesmo o início da corrida por começarem na parte de trás.
“Nunca vou a brincar quando vou correr com ela. Vou totalmente concentrado. O desviar-me para cumprimentar alguém é o suficiente para acontecer alguma coisa”, nota. E quem pensa que é tudo um mar de rosas, desengane-se. Fisicamente, “é muito custoso”. Mas para se ter noção, tomando como exemplo uma corrida de 10km, Carlos diz que é capaz de parar 10 vezes ou para perguntar se ela quer água, se quer fruta, ou para recolocar a cortina que a tapa do sol, que muda de lado a cada curva.
“Tenho de proporcionar sempre o conforto à minha filha para que sempre que lhe perguntar se quer ir correr, ela responder que sim. Se não for confortável, ela vai começar a sentir-se incomodada e deixa de querer ir”. E, independentemente de todos os obstáculos que enfrentam, não vão para ali para brincar. “Vamos competir”. A concentração absoluta é, por isso, o ‘boost’ para Carlos, que além do esforço físico que envolve uma corrida, transporta um peso extra de cerca de 30 quilos. Quem paga a fatura, claro, são as pernas. Tudo somado, vence o prazer de completar cada prova de coração cheio.
E a pequena Melissa, será que vai querer ser atleta assim que a idade o permitir? Para já, começa a revelar algum espírito competitivo. “Já me pergunta: ‘papá,vamos ganhar? Quem é que vai à frente?’. A preocupação dela já é onde é que está a medalha”, revela Carlos, que tem como certo que quem irá decidir o que fazer no futuro será sempre a Melissa. “Não quero forçá-la a nada. Quando chegar a altura (por volta dos seis, sete anos), vou levá-la e ela decidirá se quer correr ou não”.
Notícias ao Minuto
PAÍS CORRIDA/





