Somada a atividades diárias, fraqueza muscular pode gerar condromalácia

A quantidade de pessoas que ingressam na corrida de rua tem aumentado de maneira crescente nos dias atuais. O que se tem visto hoje é uma verdadeira “enxurrada” de pessoas correndo em parques e orlas, algumas, inclusive tornando-se praticantes de esportes como ultramaratona, trail running, triathlon, corrida de aventura, etc.

Na corrida, assim como em outras modalidades, a maior parte das lesões estão relacionadas aos microtraumas de repetição, nos quais tecidos sadios são submetidos a uma carga cíclica suprafisiológica, rompendo o equilíbrio entre destruição e regeneração celular.

O joelho é uma articulação que trabalha próxima de seus limites fisiológicos. Qualquer  sobrecarga mecânica, tanto por um treino desportivo quanto pelo trabalho ou atividades do dia a dia podem desencadear quadro de dor e inchaço, às vezes de difícil controle.

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Nas atividades diárias e na corrida, a principal função do aparelho extensor do joelho, composto pela patela, músculo quadríceps e tendão patelar, é a de desacelerar o corpo, absorvendo a energia cinética. Isso ocorre em milissegundos após o corredor tocar o solo e é feito por um mecanismo denominado contração excêntrica, na qual o músculo contraído alonga-se contra a resistência.

atletas subindo escada corrida (Foto: Getty Images)Excesso de escadas atrapalha (Foto: Getty Images)

Quando existe predisposição individual, fraqueza e desequilíbrio muscular, valgo dinâmico, comum em mulheres, somado à sobrecarga mecânica do desporto ou excesso de escadas no dia a dia, ou salto alto, a energia que seria dissipada pela massa músculo-tendínea passa para a articulação, desencadeando lesão. Quando atinge o tendão patelar, por exemplo, temos a tendinite, mas quando atinge a cartilagem de contato entre a patela e o fêmur poderemos ter a condromalácia.

Sabe-se, desde a época de Hipócrates, que a cartilagem articular lesada tem potencial de cicatrização muito limitado. Isso se deve às propriedades histológicas do tecido cartilaginoso que, ao contrário da maioria dos tecidos do corpo, possui pouquíssimas células (hipocelularidade), não possui vasos sanguíneos (avascularidade), é aneural, ou seja, não possui terminações nervosas, e é riquíssimo em água. Consequentemente, uma vez lesada, a reação inflamatória é muito pequena e a possibilidade de reparo, quase nula.

Joelho eu atleta (Foto: Getty Images)

Que corredor está sujeito a isso?

Em tese, qualquer pessoa pode vir a desenvolver esta condição, mas estudos recentes têm demonstrado que algumas características individuais do aparelho locomotor de cada pessoas podem predispor ao desenvolvimento da lesão. Isso incluiria pisada muito pronada ou supinada, joelhos em “x” ou arqueados, angulação e rotação anormais entre os ossos do quadril, diferença de comprimento dos membros e, principalmente, enfraquecimento e encurtamento de grupos musculares, gerando desequilíbrio entre músculos.

Algumas profissões e atividades desportivas estão mais sujeitas à lesão. Dirigir muito, passar muito tempo sentado com joelhos flexionados e excesso de escadas são fatores relacionados. As mulheres parecem estar especialmente em risco de desenvolvê-la. O salto alto, que mantém o joelho em constante desaceleração, é um fator importante. Mas estudos têm também indicado um funcionamento diferente entre os joelhos feminino e masculino.

Tratamento

Assim, como para qualquer atividade física, acredito que o indivíduo deve primeiro conhecer o seu aparelho locomotor, em seguida melhorar o condicionamento físico e, a seguir, iniciar-se no desporto.

Frente a um quadro de sobrecarga femuropatelar com ou sem o amolecimento cartilaginoso, sou partidário da reabilitação fisioterápica, seguida pelo trabalho de fortalecimento e reequilíbrio muscular. Havendo alivio das dores, “devolvemos” aos poucos o paciente ao esporte. Isso, obviamente, sob contato contínuo e harmonioso entre o treinador e profissionais da saúde. Finalmente, em raros casos refratários, realizamos o tratamento cirúrgico através da artroscopia do joelho .

Como prevenir?

1. Conheça o seu corpo!
O exame do aparelho locomotor envolve a avaliação dinâmica da pisada, também conhecida como baropodometria, com a prescrição de palmilha se necessário, alinhamento dos membros e desvios posturais, discrepância do tamanho dos membros, conhecida no meio médico como dismetria. Para saber sobre o seu equilíbrio dos grupos musculares que executam os movimentos (agonistas) e os que resistem (antagonistas), utilizamos a avaliação isocinética .

2. Prepare-se para a corrida
É o condicionamento físico para determinado esporte, realizado por um preparador físico experiente e, se possível, observado por um fisioterapeuta. Para esportes de envolvem desaceleração repetitiva  dos membros inferiores, como a corrida de rua, o treinador focará no fortalecimento excêntrico do quadríceps. Ou seja, na capacidade do músculo anterior da coxa de se contrair contra a resistência, a fim de absorver energia cinética, poupando as articulações.

3. Preparação técnica ao esporte
Realizada, imprescindivelmente sob a tutela de um preparador físico especializado em corrida, trata-se do conhecimento técnico do esporte  e envolve as planilhas de treinamento, postura e progressão do individuo no esporte para ganho de resistência física ou para a competição

Corredora treinando (Foto: Getty Image)Postura correta evita lesões (Foto: Getty Image)

Esta fase serve, basicamente, para que o treinador dose o desempenho do atleta no desporto, a fim de se evitar sobrecargas de volume ou intensidade no treino. É muito comum que um corredor de rua que treina sem supervisão, por exemplo, corra de 10km a 20 km em dias seguidos e, ao final de determinado tempo, desenvolva lesões.

Enfim, a conscientização do corredor de que a equipe multidisciplinar deve  avaliá-lo e acompanhá-lo durante o período de treinamento evita lesões e pode maximizar o rendimento, fazendo com que o esporte atinja seu objetivo básico: a promoção de saúde.

Fonte: http://globoesporte.globo.com