Durante anos, eu olhava para os outros a correr e pensava: “Isso não é para mim”. Via aquelas pessoas todas equipadas, a fazerem parecer fácil, e eu ali, sentado, a arranjar desculpas. Faltava-me tempo, motivação… e principalmente coragem.
Até que um dia, sem grande razão, decidi calçar uns ténis velhos e sair porta fora. Corri dois minutos, quase morri. Fiquei com a alma nas pernas e a dignidade no passeio. Mas… no meio do caos, senti algo. Senti que queria tentar outra vez.
No início, era só isso: tentar. Um passo de cada vez. Treinos curtos, lentos, discretos. Quase às escondidas. Mas comecei a gostar. A corrida dava-me liberdade, clareza, força. Dava-me o que o sofá nunca me deu: orgulho.
Comecei a perceber que todos os “prós” já foram como eu. Que todos os que hoje voam um dia andaram a tropeçar nos próprios pés. E foi aí que deixei de correr dos meus limites… para começar a correr em direcção a eles.
Houve dias difíceis, claro. Subidas que pareciam muros. Dores que falavam mais alto que a vontade. Mas depois vinham os dias bons. Aqueles em que o corpo voava, em que o mundo calava, e eu sentia que pertencia ali.
Hoje, correr já faz parte de quem sou. Não corro para ganhar medalhas. Corro para ganhar sanidade. Corro para me lembrar do que sou capaz. Corro para não esquecer que fui eu que comecei, mesmo sem acreditar.
Porque a verdade é esta: a vida muda quando tu decides mudar.
E se estás à espera de motivação para começar… ela não vem. Tu é que vais buscá-la. Um passo de cada vez.
Sergio Figueira





