Nos países onde as temperaturas por vezes são elevadas, é fácil observar-se alguns corredores em pleno esforço apenas vestindo calções…

Que maravilha…

Que frescura…

Tanta liberdade até acaba mesmo por ser um convite para se deixar a camisola de lado e correr apenas com uma única peça de roupa. Aliás, hoje em dia, muitas corredoras aparecem nas competições vestindo unicamente curtíssimos biquinis os quais quase que nem espaço têm para os respectivos dorsais.

Será na procura de maior frescura, maior liberdade de movimentos que muitas atletas optaram por fugir da clássica camisola e dos calções? Talvez, talvez seja isso, mas é opção de indumentária que deixa os eventuais patrocinadores alarmados pois o espaço que as raparigas deixam para ser colocada alguma publicidade é quase nulo e quando colocam o dorsal oficial da competição então o patrocinador desaparece na maioria dos casos.

Mas se as atletas já não podem reduzir mais as suas vestes, então não será tempo da maioria dos homens correrem apenas e só de calções, como acontece com alguns corredores? Se há vantagens, então…

O QUE NOS DIZ A FISIOLOGIA

Imaginemos um dia quente, de calor e com alguma humidade. O atleta está a percorrer uma distância de 15 km e o grau de evaporação é elevado, apesar de ter ingerido generosamente líquidos em todos os postos de abastecimento. O esforço continua e de camisola, calções e boné, vai vencendo quilómetro a quilómetro apesar das condições atmosféricas não sejam nada favoráveis a qualquer tipo de prova longa.

Subitamente o “nosso homem” resolve despir a camisola e refrescar-se abundamente na esperança de tornar a sua progressão mais favorável.

Será que tal simples procedimento foi boa opção?

A par de sensação ilusória de maior frescura, a verdade é que ao retirar essa peça de roupa aumentou a superfície de evaporação do seu corpo e consequentemente vai perder, através do suor, líquidos num processo muito mais rápido, comparativamente ao detalhe se continuasse a correr com camisola. Por outras palavras, sem camisola, o nosso atleta faz com que as perdas de líquidos sejam superiores e mais cedo ou mais tarde vai ter de abrandar o ritmo de corrida.

Em termos fisiológicos, os estudos apontam para números em que 40% da energia produzida pelo atleta destina-se unicamente a arrefecer o seu corpo e nada mais. Com grande perdas de líquidos é evidente que os andamentos terão de ser inferiores quando comparados com esforços com temperaturas entre os 8 e os 12 graus centígrados e fracas percentagens de humidade.

RITMO MAIS VIVO SEM CAMISOLA? 

Pois é uma ilusão bem enganadora, não obstante o corredor se sentir, numa primeira fase, mais confortável, talvez com a sensação que com indumentária reduzida fica bem mais fresco.

Se fosse benéfico para o Ser Humano, então nas zonas de climas quentes as indumentárias usadas pela população seria quase nulas. Porém o que se observa nos climas deserticos é que as vestes são leves mas tenta-se cobrir a maior superfície corporal, precisamente para assim se reduzir o grau de evaporação cutânea.

Também os corredores de ultramaratonas em regiões áridas, não caem na asneira de alinhar sem T-shirt, optando por equipamentos claros mas muitos deles com mangas compridas e até collants, procurando não se expor diretamente ao Sol e facilitar o grau de perdas de líquidos através do chamado “suor invisível”.

Aliás, convém referir que o corpo humano ao produzir suor, ao colocar pequenas gotas de líquido ao longo do corpo está a arrefecer-se, a fazer com que a temperatura corporal fique dentro de parâmetros equilibrados. Sem camisola, e com o vento da própria deslocação do corredor, a evaporação é mais acelerada, o suor desaparece mais rápido consequentemente o corpo é obrigado a produzir mais e mais suor (mais perdas de e líquidos) já que o que “colocou na pele” há minutos já se evaporou…

Mas e as atletas, com as suas reduzidas vestimentas?

A razão da moda (surgida a partir dos anos 90) dos equipamentos curtos talvez tenha suporte em termos sociológicos.

Na verdade raras são mulheres que não sentem necessidade de se mostrarem bonitas, ou melhor desejáveis. Quando estão a correr,estão igualmente a mostrar-se, a exibir-se. É certo que o importante naqueles momentos é a obtenção do melhor resultado, mas subconscientemente também mantêm sempre o chamado “lado feminino” e daí o uso do biquini ser indumentária que rapidamente acabou em moda nas competições de Atletismo.

Mas não será que perdem mais liquidos competindo em biquini?

Sim, é certo que perdem mesmo, e tal premissa foi demonstrada pelos estudos da Universidade de Oslo, levados a cabo em 2011, e que demonstraram que elas acabam por ser prejudicadas no seu rendimento atlético, quando as competições têm lugar em zonas com climas quentes. Estas notórias perdas superiores de líquidos podem situar-se entre os 2 e os 7%, o que no caso das atletas de alta competição pode significar precisamente a perda de medalhas por se ter competido com tão pouca roupa.

O quê perder uma medalha devido ao biquini?

Decididamente não, prefiro correr de camisola e calções!■