Joaquim e a maratona

O Joaquim era um homem simples. Cinquenta e poucos anos, barriga simpática, fã de pastéis de nata e devoto da sua cadeirinha de domingo à tarde. Até que um dia, depois de ver o sobrinho correr a Meia Maratona da Ponte 25 de Abril, teve uma epifania:

“Também vou correr uma maratona.”

Toda a família riu. Até o cão pareceu revirar os olhos. Mas o Joaquim não vacilou. Comprou uns ténis fluorescentes, um relógio com GPS que não sabia usar, e uma t-shirt com “No Pain, No Pastel”.

Começou a treinar.
Aos poucos. Primeiro corria até ao café da esquina. Depois até ao parque. E um dia, milagrosamente, conseguiu correr 10 km seguidos… com três paragens para respirar e uma para tirar uma selfie.

O grande dia chegou: Maratona de Lisboa.
Joaquim estava nervoso, mas confiante. Levava 3 bananas, 2 barras energéticas e fé nos géis que o primo lhe deu (que, afinal, eram laxantes disfarçados, mas isso é outra história…).

Km 5 – Tudo tranquilo, música a bombar, ainda deu um passo de dança quando passou por um grupo de tambores africanos.
Km 15 – As pernas já estavam a mandar sinais, mas ele respondeu com um gel e um “VAMOS, JOAQUIM!” dito em voz alta.
Km 25 – Uma bolha no pé começou a fazer-se notar.
Km 30 – As pernas declararam greve geral. O Joaquim sentou-se no passeio e começou a negociar com Deus, promessas incluídas.
Km 35 – Viu um cartaz a dizer “Falta Pouco!”… mas o GPS dizia que ainda faltavam 7 km. Teve vontade de chorar.
Km 38 – Uma senhora ofereceu-lhe um figo seco. Ele comeu como se fosse ouro.
Km 41 – Joaquim chorava. Literalmente. De emoção, de dor, de tudo.
Km 42 – Joaquim cruzou a meta. De braços ao alto. Parecia um gladiador a sair de batalha. E enquanto recebia a medalha, gritou:

“NUNCA MAIS ME METO NISTO!!”

Três dias depois, inscreveu-se noutra.

Porque o Joaquim percebeu o segredo: não se trata de ser o mais rápido. Trata-se de nunca desistir. De rir com o sofrimento. De correr com o coração.

E desde então, todos o conhecem como Joaquim, o Maratonista Improvável. A lenda que correu contra todas as probabilidades… e ganhou muito mais do que uma medalha.