Correr é, para muitos, mais do que um desporto: é uma paixão, uma forma de vida. Mas, para que essa paixão não se transforme em dor, é essencial evitar as tão temidas lesões. O atleta que termina uma época sem se lesionar tem sempre vantagem sobre os outros, pois consegue manter a regularidade do treino, evoluir e desfrutar de cada corrida.
Durante uma época desportiva, o corpo é sujeito a cargas intensas e repetitivas. O segredo não está apenas em treinar muito, mas em treinar bem. Muitos corredores amadores caem no erro de aumentar o volume de treino de forma brusca, esquecendo que a progressão deve ser gradual. A pressa é inimiga da performance.
I – Erros no Plano de Treino
Grande parte das lesões nasce de um planeamento errado. Um plano de treino deve equilibrar três elementos: carga, recuperação e variação.
Treinar sempre no mesmo ritmo, no mesmo percurso e sem descanso adequado é o caminho mais rápido para o sobreuso.
Os músculos precisam de estímulo, mas também de tempo para se regenerar.
A variação de ritmos, superfícies e tipos de treino (contínuo, intervalado, fartlek, resistência, força) ajuda o corpo a adaptar-se e a evoluir sem se desgastar.
O descanso não é sinal de preguiça, é parte do treino. Um dia de repouso pode ser o que evita uma tendinite ou uma fratura por stress.
II – Diferença entre Quantidade e Qualidade
O atleta inteligente sabe que não é o número de quilómetros que faz o campeão, mas sim a qualidade de cada sessão.
Um treino curto mas bem estruturado vale mais do que uma corrida longa feita sem objetivo.
Planos equilibrados, com reforço muscular, mobilidade e flexibilidade, são o verdadeiro antídoto contra as lesões.
III – Fatores Morfológicos
Nem todos os corredores têm a mesma estrutura corporal. Existem pés planos, cavos, pronadores, supinadores… E tudo isso influencia a corrida.
O erro começa muitas vezes nos pés: um apoio incorreto multiplica o risco de inflamação, dor e desequilíbrio.
Por isso, conhecer o próprio corpo é essencial. Hoje, uma simples avaliação biomecânica ajuda a identificar padrões e a escolher o calçado certo.
IV – O Papel dos Sapatos
Nos anos 80, dizia-se “compra bons ténis e terás metade das lesões evitadas”.
Hoje, isso continua atual, mas com mais opções. Os ténis evoluíram: amortecimento com placas de carbono, espuma reativa, drop ajustado e designs pensados para cada tipo de passada.
Mas o princípio mantém-se: o melhor sapato é o que se adapta a ti, não o mais caro ou o mais famoso.
Trocar de sapatilhas regularmente (a cada 600–800 km), alternar modelos e evitar treinar sempre com o mesmo par ajuda a distribuir o impacto e reduzir o desgaste articular.
V – Atenção aos Sinais do Corpo
As lesões não aparecem do nada: o corpo avisa. Dores persistentes, inflamações ligeiras, desconforto após o treino — tudo isso são alertas.
Ignorar a dor é um erro clássico.
É preferível parar dois dias do que duas semanas.
Com gelo, alongamentos, massagem e descanso, muitas lesões podem ser travadas no início.
VI – A Cabeça Também Treina
A prevenção de lesões não é apenas física. A mente também joga. O atleta que corre exausto, stressado ou com sono em atraso está mais vulnerável.
Equilíbrio emocional, sono de qualidade e alimentação adequada são pilares tão importantes quanto o treino.