Tendão de Aquiles: o que é, porque inflama e como recuperar
O tendão de Aquiles, também conhecido como tendão calcâneo, liga os músculos da panturrilha, gastrocnémio e sóleo, ao osso do calcanhar, o calcâneo. É o tendão mais forte do corpo humano e um dos mais exigidos no dia a dia, essencial para caminhar, correr, saltar e mudar de direção.
Quando este tendão inflama, surge a chamada tendinite ou tendinopatia do tendão de Aquiles. O quadro manifesta-se, na maioria dos casos, com dor na parte posterior do tornozelo e do calcanhar, que piora com a atividade física e melhora com o repouso. São frequentes outros sinais como sensibilidade ao toque, sensação de rigidez ao acordar ou após períodos prolongados de descanso e, em alguns casos, estalidos ao movimentar o pé.
A seguir, reunimos as principais medidas recomendadas para aliviar a inflamação e promover uma recuperação segura e eficaz.
Medidas imediatas: repouso e gelo
Na fase inicial, o mais importante é reduzir a sobrecarga no tendão. Deve evitar-se temporariamente a corrida, os saltos e outras atividades de impacto que provoquem dor. Repouso não significa imobilização total, mas sim evitar esforços dolorosos. Atividades de baixo impacto, como bicicleta estática ou natação, podem ser mantidas se não agravarem os sintomas.
A aplicação de gelo é uma das estratégias mais eficazes nas primeiras 24 a 48 horas. Compressas frias ajudam a reduzir a inflamação e a dor. O gelo deve ser aplicado durante 15 a 20 minutos, várias vezes por dia, sempre protegido por um pano ou toalha para evitar queimaduras na pele. À medida que a fase aguda passa, a frequência pode ser reduzida, sempre com orientação profissional.
Em alguns casos, o médico pode recomendar analgésicos ou anti-inflamatórios, por períodos curtos, para controlo da dor. O seu uso deve ser criterioso, pois mascarar a dor e retomar a atividade demasiado cedo pode agravar a lesão. As infiltrações com corticoides no tendão de Aquiles são, regra geral, desaconselhadas, devido ao aumento do risco de ruptura.
Elevação do calcanhar e calçado adequado
Durante a fase dolorosa, elevar ligeiramente o calcanhar dentro do calçado pode aliviar a tensão no tendão. Palmilhas de silicone ou cunhas de elevação reduzem o estiramento do tendão ao caminhar, proporcionando alívio temporário. Esta medida é paliativa e deve ser usada apenas por períodos curtos.
O calçado desempenha um papel fundamental. Sapatos gastos, sem amortecimento ou com contraforte rígido podem aumentar a sobrecarga no tendão. O ideal é utilizar calçado com bom amortecimento no calcanhar, suporte adequado e em bom estado de conservação. Saltos muito altos ou calçado completamente raso devem ser evitados.
Em pessoas com alterações da pisada, como pronação excessiva, pé chato ou pé cavo, palmilhas ortopédicas personalizadas podem ajudar a distribuir melhor as cargas e reduzir o stress no tendão.
Alongamentos e fortalecimento: a base da reabilitação
A recuperação do tendão de Aquiles passa obrigatoriamente por exercícios terapêuticos. Os alongamentos regulares da panturrilha ajudam a reduzir a tensão no tendão e a melhorar a mobilidade do tornozelo. Devem ser feitos de forma suave, várias vezes ao dia, especialmente de manhã e após períodos de repouso.
Paralelamente, o fortalecimento muscular é essencial. Exercícios de panturrilha, sobretudo os exercícios excêntricos, demonstram excelentes resultados na recuperação da tendinopatia do Aquiles. Um exemplo clássico é a descida lenta do calcanhar a partir de um degrau, controlando o movimento. Estes exercícios ajudam a reorganizar as fibras do tendão e a aumentar a sua resistência.
A fisioterapia é altamente recomendada. Para além dos exercícios, o fisioterapeuta pode recorrer a técnicas complementares como terapia manual, bandagens funcionais ou modalidades físicas, sempre integradas num plano progressivo e individualizado.
É fundamental ter paciência. Os tendões têm uma recuperação lenta e interromper o processo assim que a dor diminui é uma das principais causas de recaída.
Prevenção e regresso à atividade
Após a recuperação, a prevenção torna-se prioridade. O regresso ao exercício deve ser gradual, com aumentos progressivos de volume e intensidade. Qualquer sinal de dor deve ser respeitado.
O aquecimento antes do treino e o desaquecimento no final não são opcionais. A panturrilha deve manter-se forte e flexível, mesmo fora de períodos de lesão. Alternar modalidades, variar terrenos e respeitar dias de descanso reduz significativamente o risco de nova inflamação.
Quando procurar ajuda médica
Se a dor for persistente, diária ou limitar as atividades normais, é essencial procurar avaliação médica. Uma tendinite não tratada pode evoluir para uma tendinopatia crónica, com degeneração do tendão e maior risco de ruptura.
Procure ajuda imediata se surgir dor súbita intensa, sensação de estalo ou dificuldade em apoiar o pé, sinais que podem indicar uma ruptura do tendão de Aquiles.
O diagnóstico é geralmente clínico, mas exames como ecografia ou ressonância magnética podem ser necessários. A grande maioria dos casos melhora com tratamento conservador bem orientado, sendo a cirurgia reservada apenas para situações persistentes após vários meses de tratamento adequado.
Em resumo
O tendão de Aquiles é resistente, mas não indestrutível. Repouso inteligente, exercícios bem orientados, calçado adequado e progressão controlada são os pilares da recuperação e da prevenção. Dor constante não é normal e ignorá-la é abrir a porta a problemas maiores.
Cuidar do tendão de Aquiles é investir na longevidade da sua corrida, da sua mobilidade e da sua qualidade de vida.





